“Jornal de Leiria”, 23 de Setembro de 1917, edição n.º 36:

«Somos informados de que uma rapaziada desta cidade, em dois automóveis, foi, na tarde de 9 do corrente, jantar à pitoresca Mata Nacional na charneca dos Marrazes, a dois quilómetros desta cidade e que, finda a jantarada no meio de grande entusiasmo e já noite, seguiram todos nos automóveis para esta cidade, quando ao passarem pelo lugar dos Marrazes, foram, os carros e as pessoas, alvos de pedradas e pauladas, partindo vidros e outros objectos dos carros, que ficaram em lastimável estado.
Os agredidos tiveram de se defender com bengalas e chaves, pois eram as únicas armas de que estavam munidos, tão certos estavam que ninguém lhes faria mal, atendendo a que o povo dos Marrazes está todos os dias a conviver com o de Leiria.
Que a maioria do povo daquele lugar é reaccionária já nós sabíamos mas que era tão selvagem não era do nosso conhecimento! Que isto se praticasse em qualquer lugarejo longínquo da Serra, onde o povo não estivesse acostumado a ver gente, ainda teria uma desculpa, mas no lugar dos Marrazes, a dois passos de Leiria, e cujos povos convivem todos os dias, pois é a Leiria que eles veem vender o produto da sua lavoura, não se admite.
O povo de Leiria tem o direito de ir passear aos Marrazes ou a qualquer outra localidade assim como os de lá teem a frequentar Leiria, sem direito a ofensas mas sim ao bom acolhimento pois é nisso que existe a bôa educação que parece faltar a alguns habitantes daquele lugar. Segundo a informação que nos deram, os agressores ameaçaram os agredidos com os da filarmónica, dizendo que se eles lá estivessem, os de Leiria seriam completamente amarrotados, parecendo por isso, que os da música é que ainda são maiores féras!!
É bom que a guarda republicana faça por lá as suas amiudadas visitas para fazer entrar na ordem os elementos perturbadores desta e da bôa união que deve existir sempre entre os povos.»
* Jornal do Partido Republicano Português
Fonte: Arquivo Distrital de Leiria
Pesquisa: Damião Leonel