Fahrenheit 9/11
Ainda que lhe reconheça alguns excessos, admiro Michael Moore. A fasquia, para este realizador de 50 anos, estava elevada. Foi o próprio que a colocou, na minha opinião, ao criar o documentário mais intenso que conheço. Com Bowling for Columbine, o humor e a sátira imiscuem-se com sentimentos fortes e uma intensidade fora do comum no cinema documental.
Moore é o timoneiro de um barco que navega em corrente e ventos favoráveis. O Mundo tem assistido à vergonha do «mandato G.W.Bush», às mentiras e às gafes, que até teriam piada, não fosse as suas trágicas e conhecidas consequências. É fácil concordar com Michael!
Política à parte, o novo filme de Michael Moore tinha um grande desafio: expôr mais que o óbvio. Quanto a mim, fê-lo com mestria.
As relações sujas da Família Bush com a Família Real Saudita e destes com as maiores multinacionais americanas, são conhecidas, são vergonhosas e são pedras base na economia americana. É o mesmo que dizer que são também pedras base da economia mundial. Assim, saber que uma nação terrorista, que desrespeita permanentemente os direitos humanos, em especial os das mulheres, representa 7% da economia americana, abre precedentes terríveis.
G.W.Bush é um palhaço. Todos já sabemos isso. Mas as imagens de Moore vão mais longe. Declarações hilariantes, discursos carregados de pretensão mas, principalmente, poder ouvir da boca de Bush, as suas próprias mentiras. Uma, duas e três vezes. Em locais diferentes. Ou aquelas imagens da escola onde Bush foi na manhã do 11 de Setembro. Depois de saber que um avião tinha embatido na torre, prossegui a visita e foi ler com as crianças. Quanto o seu secretário o avisou que o 2º avião tinha batido na outra torre e que o seu país estava a ser atacado, esteve 7 (sim, SETE!!!) minutos, com cara de parvo, sentado, a ler com as crianças. Não estava lá ninguém que pensasse por ele, então não se mexeu. Inteligente o rapaz.
Como consegui Moore estas imagens? E as imagens dos soldados americanos a agredirem presos iraquianos? E as declarações dos soldados, a condenarem a invasão, cientes da verdadeira razão porque estavam ali: para que as empresas do seu país ficassem mais ricas, explorando o país que eles arrasaram.
Mas de todas as imagens, há uma que marca definitivamente o filme. Uma mãe, cujo filho morreu em combate no Iraque, em puro desespero, junto á casa branca. Momentos antes, a mesma mãe tinha lido a última carta que o seu filho tinha escrito. Emocionante e terrivelmente cruel.
Assim é, também, Michael Moore.

Fahrenheit 9/11 ganhou a palma de ouro de Cannes e, no entanto, teve grandes dificuldades em ser exibido nos EUA. Vá-se saber porquê...
Não deixem de ver. Para os interessados em cópias, podem fazer o download do filme. São DOIS CD's. Este é o primeiro e este é o segundo. (Viva a mula! Infelizmente, só para o pessoal da banda larga.)
O DVD sai em Outubro, por isso é de esperar mais uns extras. O melhor extra seria, sem dúvida, a derrota eleitoral de Bush e dos comparsas dele.
Portem-se bem e vejam (bons) filmes.